Compro asas

















Foto: © Cesarr Terrio




Sabe? Eu queria um balão. Dizem que as coisas são mais bonitas vistas de cima. Porque aqui em baixo, ha!, as pessoas estão ficando malucas. Já não sinto conforto em ter que ficar caminhando sobre tanta pretensão. É bem complicado ter que andar com  bolso cheinho de palavras pesadas. Como andar com um arsenal de pensamentos. Ando munido para o mundo, cansei disso. Cheguei no lado da rua onde já não quero pensar em nada. Eu quero um silêncio profundo. Consegue ver? Há uma luz ali na frente. Rezo que não seja uma luz para minha salvação, não ainda. Bem, não fiz as coisas que queria fazer. Deixei de fazer algumas, outras adiei para não sei quando, desisti de algumas antes mesmo de tentar e de todas as outras tive medo; medo principalmente das que aconteceram no meu coração. Mas não estou arrependido. Não mesmo. Estou ansioso para o que vier a acontecer. Consegue ver agora? Tudo sempre girou em torno dessa luz, não foi? Ela aqui, bem no meio do peito da gente e preferimos procurar por outra aí fora. Afinal, eu brilho, você brilha e não conseguimos ver. Talvez agora eu já tenha te convencido de voar um pouco. Garanto que vai haver menos dúvidas lá em cima quando você estiver contando estrelas. Esqueça o balão. Garanto, também, que as nuvens são doces como te contaram quando você era criança. Se estiver em dúvida sobre o que estou falando, não é sobre morrer. A morte é algo que não me pertence, não cabe a mim falar sobre ela. Quero, na verdade, dar um passeio sem ter que caminhar. Quero esquecer muita coisa. Vamos voar um pouco, há luz aonde quero ir. Acho que hoje estou desconversando muita coisa, mas o que é a poesia se não um bom desentender das coisas? Se você quiser conversas sobre qualquer outro negócio que seja, te espero no céu.



#Para Pipa. Passou aqui e me deixou uma nuvem.

11 comentários:

Nini C . disse...

Bem qe eu queria também dar um rolé pelo céu. Te entendo perfeitamente. Beijos.

lídia martins disse...

Quando venho na sua direção, menino luminoso, venho devagar... Venho mais por contemplação do que para chegar a algum lugar.



Vim assistir a chuva com você. Não repare meus pés cansados, nem minhas roupas molhadas desses asterismos. Ainda uso aqueles mesmos chinelos de algodão que calcei para vir ao seu encontro naquela madrugada de sábado. As ruas silenciaram de um modo que eu só conseguia ouvir o meu próprio passo. A cidade não queria me contar mais nada, também calou. Eu vim sonhando um por do sol como este, convencida de que a noite era luz. E de que existe alguma coisa pela qual devemos lutar, acreditar, viver, e até mesmo morrer. Mas é provável que seja assim não acha? Deixa eu te memorizar. Forte, sem dor, sem pontadas no coração, sem medos e sem angústias. Vamos deixar que os paraísos e infernos se precipitem sobre os prédios e casas da cidade. Não se preocupe, eles vão se entender. Vamos aprender com os pássaros. A arriscar um vôo, sem pedir licença, mesmo com as asas estraçalhadas. Vamos aprender com os ventos. A mudar o rumo, sem qualquer explicação. Vamos aprender com as estradas. A seguir em frente, e deixar que os caminhos nos encontrem.




Cante Sunday Smile para mim.



O mundo está cheio de música.
Talvez seja medo do silêncio.

Julyana ツ disse...

Então vamos subir em uma dessas nuvens de algodão, vamos lembrar o quanto eram doces quando ainda eramos crianças e ver que tudo ainda está lá, só a nossa espera, só a espera da nossa coragem de ir lá buscar.




;*

Italo Stauffenberg disse...

Estou começando a gostar profundamente do que escreves! parabéns pelos contos!

"...mas o que é a poesia se não um bom desentender das coisas?..."

Gostei dessa frase.

Abraço.

Guilherme Augusto Codignolle Souza disse...

Ótima idéia a do balão. Se realmente for melhor a vista de cima, me avise que vou procurar algo semelhante para mim também.

Meu Blog a quem quiser visitar:

http://codignolle.blogspot.com

Meu Twitter a quem tiver:

http://twitter.com/guicodignolle

Abraços... o/

Anderson Dias disse...

Que texto esplêndido! Quão sensível, suave e que causa uma certa angústia por não ser explícito quando se trata do voar. Talvez por deixar esse solo hóstil. Não sei de que modo, não sei! Mas algo que dever ser especial e tão novo, de fato deve existir algo assim num plano transcendental. Lindo texto.


Paz.

Luria Corrêa disse...

Lindo texto Cristiano ! Realmente, acho que tudo depende não só do nosso ponto de vista. E é isso que deveria mover o mundo.

bom fim de semana, beijos :)

Rodolpho Padovani disse...

Ah, eu quero dar esse passeio sem caminhar, voar e ver td do alto, quero desentender das coisas... é tão bom apenas viver a vida simplesmente.
Ótimo texto, como sempre.

Abraços!

ErikaH Azzevedo disse...

Sou de vôos e de rasgar imensidão de céus azuis...vês pq gostei tanto do texto então né! Além do mais, a menina pipa bem merece, essa conhece de céu como ninguém.

Um beijo ao menino, gostando de aqui estar, viu!

Erikah

Jéssica Trabuco disse...

Vc escreve muito bem!
Eu tbm quero voar... e fiz isso lendos suas palavras ;)
Todos vocês do "Contos Franqueados" escrevem mto bem... tô encantada viu?

www.musicpoesiaeblablabla.blogspot.com
www.daquiloquenaofalam.blogspot.com
www.aliceinworld.tumblr.com

Ðani disse...

Você escreve tão bem menino, sensação boa.
valeu a pena ter separado 5 minutos pra entender de alguma coisa bela.