A vida e a descrença


















©Irisz Agócs



A vida é mais uma dessas coisas tortas, eu acredito. Não é que seja distorcida, não. É que a gente não sabe para onde vai. E mesmo que não permitamos, há sempre essa possibilidade admirável de surpreender. O que está construído se quebra, e o que não ameaçava agora o faz, e quem se fazia de amigo nos trai e o que realmente importa agora não importa mais. A gente muda, porque tudo muda. Então mudar, é um verbo bom. Embora insistamos, essa estorinha de fazer um lugar seguro, de ser estável, um ninho de galhos de aço, não é verdade. A seguridade pela qual guerreamos dia e noite é a mentira mais bem articulada. Não se constrói nada com areia, e areia é tudo o que temos. Se antes era necessário entender o desapego, agora é a lição é desacreditar. Duvide de todas as coisas: duvide do que te dão, do que se perde, do que se acha e do que se supõe. Duvide, é meu conselho. Porque a única coisa definitiva, é a falsidade. Toda verdade é apenas um amarrado de possibilidades. E se for confiar em alguma coisa, que seja no seu taco. Andamos no escuro, o tempo todo. Uma risada aqui, um abraço ali, uma fofoca cá e de todo canto. O julgamento alheio, a distorção de tudo, a irrelevância do que nós somos, eis esse mundo. E onde foi parar o amor? Pergunto eu. Não sei, não sei. Todos respondem. Nem no amor, dos outros, acreditem. Ele é o pior de todos, nos conselhos. O mundo é uma coisa trágica, estejam cientes disso. É só caminhar nas ruas, ver o sonhos que se desmancham, os corações que se quebram, os sentimentos que ninguém escuta. Viver é passar por tudo isso, ninguém se engane. Viva em desconfiança, mas não seja cético; viva desacreditando, mas não perca a fé. A vida é cruel, repito, mas surpreende, repito também. Então mesmo sendo um risco, se precisar de algo pra se guiar, que seja pelo seu amor, seu amor próprio.
Porque, sabe? , só esse amor pode nos julgar.

6 comentários:

lídia martins disse...

Se eu lhe dissesse que a dúvida é a minha fé, você acreditaria?


Tantas vezes tentei seguir com a minha crença nas pesssoas, na vida. Mas como fosse um labirinto, uma a uma, me levaram ao ponto de partida.


O orgulho envenenou as almas, e receio que já não haja saída.

Jéssica Trabuco disse...

Cristiano, gosto muito da forma que escreve e concordo com seu texto.
Só não acho que o mundo seja somente assim. Não sei se é mal de escritor, mas ainda vejo algumas cores por aí. Poucas comparada a esse marzão de cinza, mas fortes e reluzentes. E é por conta delas, que eu ainda tenho esperança em certas coisas e em algumas pessoas.
Devemos desistir?
Eu ainda estou aqui com o meu pincel e o galão de tinta pintando sorriso no rosto de muita gente.

Rafaelle Benevides disse...

Oi, Cris. que saudades daqui. O texto é um primor e a imagem tbm. Bjsssssssss.

Rafaelle Benevides disse...

P.S.: Também adorei a trilha sonora de hoje, de excelente gosto!!! bjs.

k. disse...

Existencialista... Gostei do espaço e também da trilha sonora. Volto sempre!

Unknown disse...

Há quanto tempo não leio teus textos tão ricos! E esse me chamou a atenção especialmente...

Adorei (:
Abraço!