Naufrágio




















Foto: © Cesarr Terrio


Eu já não procuro. Um rio, a vida ensinou-me com um rio. Todas as coisas fluem adiante. Todas as coisas fluem em frente. Todas as coisas simplesmente fluem. Está na nossa completa estupidez isso de querermos sermos dique, barragem, barreira, inconvenientes. Em algum momento que talvez no falte na memória, escolhemos um pedaço de margem e nos achamos no direito de tentar tomar uma porção daquelas águas. Não podemos, nunca, com as águas. Elas têm o dom de passar por cima ou por baixo, o dom de abrir caminhos. Se resistimos por força, com toda a sua força ela se coloca contra a nossa resistência. Havemos de ceder. Se tivéssemos compreendido antes, seria menos triste menos: não podemos reter nada que não seja nosso. A mesma sabedoria da impossibilidade é a mesma da possibilidade nas águas. A correnteza que forma os lagos, é a mesma que faz rios e nos joga das cascatas. Que águas que nos pertencem suavizem em placidez e formem imensidões  para nós. Que saibamos ser largos, inundáveis, resilientes e cristalinos. Que, entretanto, nunca esqueçamos de ser rio. A força está no que se acumula, jamais no que se prende; a força está no que nunca seca. 

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