Ensaio sobre detestar o amor

O assunto é sempre o mesmo, e eu ainda não pude me convencer. Por que sempre tem que ter o amor no meio e por que ele é sinônimo de dúvida em ser feliz? Ah, meu amigo, eu detesto o meu amor. Esse que dia chuvoso chegou, com um machado no braço, devastou meu coração e levantou morada. Começou, então, a me colonizar. Me promete flores e cria grandes pastagens me alargando sem fim. Paga aluguel antecipado por meio de coisas doces e vive a reclamar, inquietamentemente, sempre por alguém. E exige, e me faz recorrer sempre a amar. Eu detesto o meu amor, que adora me fazer sofrer. Ou melhor, o sofrimento vem pelo motivo de que ele só escolhe a mulher errada. E eu já não quero viver assim, não com esse inquilino com ar de patrão. Eu faço mal em ter um coração para alugar? Que pergunta estúpida: é claro que faço, faço-o a mim. E mais estúpido é supor, que há alguém que ainda queira alugar um coração... Mas voltando ao assunto do meu amor, eu ando injuriado. Por favor, uma trégua que seja, um prazo sem dor, um espaço pra respirar. Cansei, meu amigo, e como disse anteriormente: além de mim, ninguém vai se importar. Petulância achar que meus sentimentos devem ocupar a vida de alguém, e ah, achar que meu amor chato é alguma coisa. E ao que parece ser, não sei o que vai ser, não sei qual a solução. Pois é o infeliz do meu amor, quem mantém aquilo ali batendo. Cuida das vastas terras e regula a produção de seja lá o que for que se produza em meu coração. Você deve saber, lógico, que é o amor, o gerencidor de todas as coisas. E expulsá-lo assim, é transformar-me em deserto novamente. Entre dor periódica e ser areia seca, quem prefere ser seco? Por mais que sofra, é, devo concordar, que a solução nunca deixou de ser o amor. E o amor sempre será a solução.



Que minha loucura seja perdoada,
Porque metade de mim é amor
E a outra metade...
Também. "

(Ferreira Gullar - Metade)

6 comentários:

Brunno Lopez disse...

O amor e suas casas alugadas em pedaços pequenos de madeira.

Agradeço a visita e fico surpreso em encontrar tamanha qualidade nessa retribuição.

Sigo não por agradecimento e sim por merecimento e interesse.

Abraço.

Nini C . disse...

adorei o texto, pena que pra mim no momento op amor ainda não é a solução =[
ah, adoro metade :)

Cadinho RoCo disse...

Pois é; o problema é que em princípio o amor não é de ninguém e está ao dispor de todos. A partir daí inicia-se o que poderá fluir pelo entendimento do próprio libertar proposto pelo amor.
Cadinho RoCo

Fátima disse...

Belíssimo texto, gostei muito. Nunca sei oque falar do amor, sei que é vital em todos os sentidos, pra todas as pessoas, situações, lugares...Tudo que nos faz bem há de ter um minino de amor.

Beijo meu

Emilene Lopes disse...

Te encontrei em um blog amigo, achei belo teu texto...só posso te dizer que o amor é a solução. O oposto do amor não é o ódio é a indiferença, então melhor ser amado que tratado com indiferença por quem se ama, mesmo que esse amor seja nosso arrimo, nossa único caminho, ser dependente dele é bem melhor.

Bjs Cristiano

Mila Lopes

Seguindo <

Bia disse...

Você escreve prá caramba, menino lindo!Uauuuuuuuuuuuuuuuuu!
E escreve com AMOR, este "tal" amor aí...rs!

beijos com muito carinho , de pé, te aplaudindo!

Bia