Devo dizer obrigado?

Eu não sou ingrato, eu sei quando agradecer. Mas, no momento, não sei o motivo de mostrar minha gratidão. Chegou o tempo de dizer obrigado só porque é conveniente a você mesmo que não tenha havido favores a isso? Que estranho. Então vou apagar a luz toda vez que não estiver acesa; vou passar roupas quando não estiverem mais amassadas; vou te visitar quando você não estiver em casa. Não, não reclame. Vamos continuar debatendo já tendo em mãos o documento assinado por ambas as partes? Você sabe que eu queria que você fosse embora. Mas esqueci que futuro do pretérito é a conjugação que já nasce morta ou serve apenas para ser educada. Ser educado, no momento, não é uma condição necessária. Você pode começar desocupando meu quarto e todas as nossas fotos na casa. Esqueça minhas metáforas, esqueça minhas alegorias, esqueça o meu amor. Há tantos nós entre mim e você que soa absurdo ter de desatá-los todos sozinho. Não quero isso, não tenho paciência para isso agora. Vou pegar uma faca na cozinha. Quando tivermos cortado todas as nossas lembranças, será que nos arrependeremos? A ideia de esticar essa corda e nos enlaçar foi o ato final de nossa história. Findou que durante tanto entrelaçamento, um de nós acabou enforcado: e foi eu. Não vê o quanto já estávamos distantes para nos manter presos de novo? Aliás, nunca estivemos realmente juntos. Moça, eu não vou agradecer por isso.

10 comentários:

Nini C . disse...

"quando tivermos cortado nossas lembranças, será que nos arrependeremos?"
Bom bom Cristiano! Beijos...

Danny disse...

Adorei...
Um de seus melhores posts...

Rodolpho Padovani disse...

Quando o fim chega não há mais que agradecer, principalmente quando realmente não houve uma história juntos...

Peguei o seu selinho, cara, tá na minha página de selos, obrigado por oferecer.
Ah, ouvi aquela música do Teatro Mágico que vc citou no comentário e gostei muito.

Abraços!

Pontos de Ligação disse...

Que belo texto, Cristiano.
Por que agradecer a quem só soube nos machucar, só soube nos trazer sofrimento?!
Às vezes cortar as lembranças é a melhor opção, mesmo que haja sofrimento ou mesmo arrependimento, não é recomendável guardar o que nos machuca...

Ps: O querido, fico grata pelos teus comentários, e pelo teu apreço - que é recíproco - pelos meus textos. Não tenho um blog pessoal, mas adorei sim, receber o selo da tua oficina!

Letícia

Pontos de Ligação disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Malveira disse...

Creio que foi a melhor coisa que eu li esses tempos, meu jovem; muito obrigado.

Brunno Lopez disse...

Cara, isso foi muito intenso.
Entendo exatamente esse tema, o lance da corda e da faca, os objetos que usamos pra trazer e abandonar.

É mesmo assim. Não existe nada que possa forçar. Nós somos essa metafora e vamos sempre nos repetir.
(Mesmo que isso agrade, ou não)

Leonardo Filizolla disse...

Valeu pela visita lá, tá? ;)

Uma vez escrevi um conto que fazia uma analogia entre o término de uma relação e o câncer. Que alguém disse que quando alguém recebe a notícia que contraiu essa doença ela passar por algumas etapas, como negação, revolta..etc. Associei isso ao término de uma relação, e que no meu conto, após todas as etapas, a pessoa que foi deixada agradece ao outro por tudo companheirismo, bons momentos e etc, sem mágoa e tal.
Depois desse teu texto, descobri que isso é uma condição meramente ilustrativa da mente do autor, porque na realidade isso não acontece, e ninguém agradece por ter sido rejeitado.
Gostei muito de 'Esqueça minhas metáforas, esqueça minhas alegorias', queria que fossem minhas palavras.hehe
Parabéns pelo blog. ;)

Rafaelle Benevides disse...

Menino, perdi tuas postagens anteriores.. teu escrito lembrou-me uma música, que agora acabei de esquecer o nome, ando meio dispersa devido uma baita insônia... de toda forma qd lembrar volto e digo, estou por aqui. abraços.

Fátima disse...

Muito bom texto, há pouco comentei um texto da nini (adoro ela) e repito aqui, me encanta quanto um texto me faz sentir, como se tudo fosse real...assim nada mais precisa.

Beijos meu