A preciptação

  Foto: © Cesarr Terrio


Meu coração está apertado. Não há motivos de menos para isso, eu também estou. Quem sabe o céu não me acalma? Mas como numa extensão de meu desespero, impreterívelmente hoje, o céu estava totalmente negro, e ao perceber que eu o flagrei em sua nudez, ele inundou todas as coisas com sua escuridão. A lua sumiu, os astros sumiram, os postes apagaram, as ruas também se apagaram; se os pássaros já não piavam, agora não cantam mais os grilos. Seja para qual for o lado que eu olhasse, a vida havia se rendido. Eu te juro: eu tenho medo de escuro. Pensei em correr, mas não tenho direção. Pesei em gritar, mas para quem ouvir? Pensei em me esconder, mas onde? Seria um castigo? Um castigo dos céus por estar nervoso? Mais uma vez, como se pudesse me sentir, sobre todos os lugares começaram a se formar nuvens acinzentadas. Eu podia até tocá-las, frias e pesadas feito chumbo. Não senti mais as paredes; ao que parece ser, as nuvens digeriram tudo. E repentinamente, tudo começou a ficar frio, a chover, às nuvens se movimentarem. Quando percebi, já estava em meio a uma grande tempestade. Varrendo tudo, encharcando tudo, se é que algo além de mim sobrou. Caí de joelhos, e implorei ao céu, que por favor, acabesse com tudo aquilo. Minha inquietação por si só já bastava, não era necessário que fosse mil vezes pior. O céu não cedeu, a chuva engrossou, e definitivamente me perdi, em meio ao breu e à solidão. Deitei no chão e decidi fechar os olhos, deixar simplesmente o céu arrasar com a terra. Durante horas e horas a fio, senti o mundo se acabar sobre meu corpo já dormente. Até que quando deixei de sentir tudo, inclusive a mim mesmo, abri os olhos e percebi que o céu se fora, deixando a mim e a cidade arrasados. No chão, onde deveria haver escombros, lama e angústia, o céu esqueceu suas estrelas. Obrigado.